Posto
isto, “Unlock thoughs” não é um mero título insípido e vago copiosamente
destinado a servir de cara a mais uma exibição de pintura e cerâmica.
Ultrapassa os formalismos conceptuais e vem marcar uma posição sólida e honesta
quanto ao estado de espírito da sua portadora. A intencionalidade e a liberdade
do conjunto das vinte e uma obras, expostas na Galeria Actual, traduzem na sua
essência mais uma fase da vida desta angolana adoptada por Braga. A “mente
aberta” exige um desafio constante ao observador, uma experiência sensorial nas
incidências aí retidas. Uma partilha de impressões, emoções e truísmos do “eu
artístico”, que impele a sua desconcertante intimidade na figura das suas
telas. Um processo de intenções de Rosa Vaz
que não permite a indiferença ao receptor e que nos confronta com o seu
“nascer continuado”, nas palavras de Merleau-Ponty. Os presentes na inauguração
lisboeta responderam afirmativamente.
Fruto
da sua forte personalidade e das raízes inatas da sua África natal, a artista
parte para uma conjugação enformada das culturas que lhe são afectas e pelo
meio ocidental e citadino que a envolve. É, precisamente, nestas duas vertentes
basilares que a sua extensa obra a reflecte, representada por fortes
tonalidades e contrastes, pelas linhas ritualistas e exóticas e pelas cidades e
vivências sobrepostas no seu imaginário. Uma vez, a visão de uma inocência
angolana perdida no caos cosmopolita da polis, noutras a transformação sofisticada da técnica
apreendida no fundo telúrico e mágico da sua meninice.
Essa
visão dicotómica entre as raízes angolanas e o abstraccionismo europeu são os
sinais mistos da singularidade artística que a torna num caso sério e
verdadeiramente único no panorama nacional. Com uma vasta carreira de mais
vinte anos feita a pulso e de uma forma estóica e determinada, Rosa Vaz veio
assinalar com mais esta exposição qual a verdadeira dimensão da arte na sua
vida – indissociável dos seus prazeres mundanos e das rotinas diárias. Uma
entrega avassaladora.
Rosa
Vaz, cidadã do mundo, autodidacta de formação e artista por vocação.
Texto de Manuel Fernandes
sobre a exposição
‘’Unlock Thoughs’’, em Lisboa
Sem comentários:
Enviar um comentário